terça-feira, 1 de maio de 2012

O que a minha agência de "Au Pair" não me contou

 Hoje é um dia perfeito para falar sobre o que quero falar, simplemente porque hoje é o Dia Internacional do Trabalhador. O assunto é, as condições de trabalho de uma Au Pair, claro que algumas delas têm uma vida muito boa, talvez vida de sonho, mas atribuo isso à um pouco de sorte ao encontrar uma famía, não às condições que as agências proporcionam.

 Não estou aqui para abordar esse assunto com uma visão profissional, mesmo eu sendo declaradamente apaixobada por Direito do Trabalho e tenho alguns motivos para não fazê-lo. O principal motivo é que não me sinto preparada para isso, nào tenho tempo para fazer uma pesquisa aprofundada e não gostaria de dizer bobeiras sobre o assunto, outro motivo é sentimental pois, eu vivo isso no meu dia-a-dia e isso torna maior a revolta pois a situação é vista e sentida de dentro e o último motivo é por eu ser completente ignorante em relação aos Direitos Trabalhistas nos Estados (se é que existe um), o que eu sei, é o que o meu contrato de intercâmbio permite.

 Quando eu comprei o programa "Big Sister Au Pair", eu sabia que viria para os Estados Unidos para estudar, tabalhar e conhecer uma nova cultura e novos lugares, seria, em teoria, parte da família e ajudaria com as crianças. A agência te vende um sonho que fica muito distante de se tornar real.



 Talvez tenha sido muita inocência minha, mas nunca imaginei que dizer que você vai trabalhar 45 horas por semana significaria que a família tem o direito de montar o seu "schudule" do jeito que for conveniente para ela tendo apenas algumas poucas limitações, as quais são: não ultrapassar 45 horas de trabalho semanais, não ultrapassar 10 horas de trabalho diárias, ter um dia e meio livre na semana (o que não necessariamente será no final de semana) e, por último um final de semana livre no mês. Fora isso você é uma simples escrava barata a qual tem que sempre ser flexível em relação às necessidades da família. 


 Como eu tive a sorte de nem imaginar essas possibilidades, eu acho que peguei um dos piores esquemas de "schudule" possíveis e, além disso, quando conversei com a minha "host" por e-mail antes de fazer o "match", eram só flores, segundo ela não haveria necessidade de eu trabalhar mais de 40 horas na semana e ela estaria sempre disposta a fazer o melhor para nós duas, pura ilusão.


 Só não foi assim, como também descobri apenas quando eu cheguei aqui, que a família me faria trabalhar do jeito que quizesse contanto que estivessem dentro daquelas normas que eu citei acima (e tem famílias que nem isso respeita), por isso, vou enumerar alguns exemplos de coisas que considero absurdas as quais vêm acontecendo comigo todas as semanas.

 1 - Eu recebo todo domingo a noite o meu "schudule" para a semana, o que me impossibilita de planejar as coisas com antecedência e é sempre uma caixinha de surpresas.
 2 - Mesmo trabalhando por 10 horas consecutivas quase todos os dias, não existe intervalo para refeição e descanso, você come se der e o que der durante esse período, normalmente quando as crianças estão comendo e se eles precisarem que você faça algo nesse período, você levanta e faz.
 3 - Acontece regularmente de eu trabalhar em um dia das 2pm as 12am e no dia seguinte começar as 7am, ou seja, intervalo minimo interjornada é inexistente.
 4 - As 10 horas por dia não precisam ser necessariamente consecutivas, acontece muito de eu trabaljhar das 7am às 12pm e depois das 5pm as 10pm no mesmo dia e, por exemplo, amanhã eu vou trabalhar das 7:15am às 8:15am e depois voltar a trabalhar as 4:45pm. Mesmo havendo um "break" durante o dia não existe garantia que eu vá descansar pois, normalmente, as crianças se mantem brincando na porta do meu quarto e fazendo todo o barulho possível.
 5 -  Não existe feriado a não ser que você tenha uma família muito maravilhosa que te proporcione isso, o que é quase impossível.
  6 - Não tem feriado e muito menos horas extras. 

 Eu poderia passar horas escrevendo sobre coisas absurdas que a agência permite que as família façam e, se há reclamações da parte da Au Pair, pelo menos pelo que eu conheço e vejo, é sempre a Au Pair que precisa aprender a ser mais flexível. Aconteceu uma vez de eu tentar conversar com aminha "host" sobre isso, que essa falta de rotina estava me deixando cansada e estressada e a resposta dela à princípio foi que ela comprou um programa que era flexível e permitia a ela fazer exatamente o que ela estava fazendo, ou seja, ela comprou uma máquina no mercado e quer que funcione de acordo com o que diz o manual de instruções. 

 Talvez você possa dizer, você poderia ter pedido "rematch" no começo, eu juro que tentei e depois o tempo foi passando e como não tinha intenção de extender ficaria cada vez mais difícil achar uma família. Você pode até dizer, você deveria ter se informado melhor sobre isso, pois bem, eu concordo e se soubesse jamais teria feito o match com essa família, porém tenho uma amiga que era mais informada e sabia que isso era possível, ela escolheu uma família à dedo a qual permitia a ela trabalhar das 8am às 5pm todos os dias e nenhum final de semana, o "match" perfeito!!! Ocorre que, de uma hora para a outra, arbitrariamente, a família resolveu mudar o "schudule" dela e agora está quase tão ruim quando o meu. Eles acordaram um horário antes de ela vir e isso foi um grande aliado para ela tomar a decisão de escolher aquela família, porém, a Au Pair não tem vez.

 Isso me revolta e me faz pensar muito nos Direitos do Trabalhador, não como regalia, mas sim como necessidade. Me parece que Americano não tem lazer, há essa coisa de competir freneticamente e querer estar sempre à frente de todos e, sendo estrangeira, parece que eu tenho realmente que ser uma máquina de trabalhar e estar sempre muito bem disposta 24 horas por dia. Muito me espanta que uma família, ou mesmo a agência que toma conta das Au Pairs não pensem nisso, mas eu cuido de quatro, ou seja, tenho os quatro filhos de uma pessoa sob a minha responsabilidade. Eu passo muito tempo diringo eles para todos os lugares , o que significa que quanto mais descansada e disposta estou mais seguras as crianças estão, simples assim, é óbvio que se eu trabalhei até meia noite em um dia, fui dormir uma da manhã e começei a trabalhar no dia seguinte as 7 da manhã, eu não estou descansada o suficiente. Eu pensaria bem nisso antes de deixar alguém carregar a vida dos meus filhos nas mãos enquanto os dirige por ai e, acredito que pensar no bem estar da Au Pair nesse sentido é pensar no bem estar dos filhos deles. 

 E, principalmente porque, além de cansaço fisíco, ser Au Pair carrega um grande cansaço emocional, você está passando por um momento de criar uma vida nova e está completamente sozinha, você deixou tudo para trás para se aventurar, você está precisando de apoio e compreensão. A "Au Pair" simplesmente não é uma trabalhadora que vem aos Estados Unidos para ganhar dinheiro (Au Pair não ganha dinheiro), a Au Pair é uma intercambista que está querendo aprimorar seus conhecimentos. E, simplesmente, eles nos traram como alguém vindo em busca de dinheiro que tem que simplesmnete trabalhar. 

 Eu queria de verdade entender porque antes de eu vir para cá não achei nenhum Blog ou ninguém dizendo a verdade sobre as possibilidades que a família tem e as possibilidades que você não tem.

 Talvez não faça nenhum sentido o meu posto de hoje além de um desabafo aproveitando a deixa do Dia Internacional dos Trabalhadores, mas gostaria muito que de alguma forma isso pudesse ter algum impacto para que as Host Families e as agências de Au Pair possam pensar e aprimorar, pois o que temos hoje, sinceramente, é quase uma forma de comprar mão de obra escrava e legalizada pelo governo.



 Pronto Falei!!!!!

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