quarta-feira, 27 de abril de 2011

"Quando o destino te chama...

... você precisa ser forte" é a frase de uma música do Phil Collins (You´ll be in my heart), e concordo plenamente com ela, quando o destino te chama você não terá como escapar, não é uma questão de querer, é sim, uma questão de ter que ser, ou ter que fazer e, para enfrentar o que pode vir você tem que ser forte. Acho que é assim que eu sempre soube que iria morar fora por um tempo, e sempre soube, de uma forma ou de outra, que seria nos Estados Unidos.

 O engraçado é que eu tinha milhões de motivos para não fazer isso, a cada questão que eu resolvia eu achava outra para fugir. Além daqueles sonhos de adolescente de ir embora e voltar diferente (coisa de um livro que eu li sobre uma moça que era filha do caseiro e apaixonada por um dos filhos do patrão e ia à Paris, depois ela voltava totalmente diferente e os dois filhos do patrão se apaixonavam por ela), no final do ano passado eu tive que decidir o que ia fazer da minha vida após a faculdade.

 Eu sabia que a primeira coisa que ia precisar fazer era passar na OAB, e eu passei. Parece que foi simples, mas não foi bem assim, o exame da OAB me consumiu por uns cinco meses, eu comia exame da OAB, respirava exame da OAB e não tinha outra coisa em mente a não ser exame da OAB. Não foi só pelo estudo, também pelo cansaço que eles nos dão com as questões discutíveis da prova, do mês de setembro de 2010 ao dia 12 de janeiro de 2011 (dia que fiquei sabendo que definitivamente eu tinha passado) foi só isso que eu vivi, cheguei inclusive, no meio do mês de outubro a largar meu estágio para estudar para a prova de segunda fase que seria no dia 14 de novembro.

 Quando voltei a pensar no intercâmbio, isso antes de começar a estudar para o exame, eu sabia que uma das condições indiscutíveis para eu fazê-lo era ter essa carteirinha, pois estava com a matéria na cabeça e se eu viajasse por um ano e depois voltasse e fosse fazer a prova seria muito mais difícil de passar. Outra questão seria terminar o meu namoro, pois eu sabia que ele não tinha a mínima intenção de ficar um ano me esperando.

 Depois que passei na prova tudo voltou, agora sim, eu sou advogada e posso começar a trabalhar, mas sempre tinha aquele zumbido do intemcâmbio no meu ouvido. Eu sabia que eu não ia poder procurar emprego fora, pois minha mãe tinha planos para o nosso escritório e isso iria magoá-la, sabia que apesar de as vezes me parecer a melhor coisa a fazer eu rejeitava totalmente a ideia de ficar longe do meu namorado, até que, na noite do dia 17 de janeiro de 2011 entrei no site da PUC-CAMPINAS para procurar informação sobre Pós-graduação em Direito e Processo do trabalho e, pimba!!!! Esse era o último dia para a inscrição no processo seletivo, sendo que, o pagamento poderia ser feito até o dia seguinte, então pensei "Se eu conseguir passar pelo processo de seleção dessa pós vou ter mais um ano e meio de ocupação por aqui e não preciso sair da minha Zona de Conforto". Das 55 pessoas para 30 vagas, eu fui uma das aprovadas, então me parecia que era isso que eu devia fazer, continuar por aqui, começar a fazer a minha pós, começar a advogar junto com a minha mãe, continuar com o meu namoro e ficar com as minhas três lindas gatinhas que tanto amo mas, quando o destino te chama...

Como tudo começou...

 Acredito que, a maioria das pessoas já teve a ideia de, de alguma forma, contar a sua história ou parte dela às outras pessoas, publicá-la, divulgá-la, fazê-la aparecer. O motivo para eu acreditar nisso é muito simples, cada um de nós é protagonista da sua história e, portanto, para nós, o que nos acontece parece ser mais importante do que qualquer outra coisa no mundo. Para nós não há no mundo felicidade maior que a nossa quando estamos felizes, e não há no mundo dor maior que a nossa quando estamos sofrendo, pois é o que sentimos e da forma que podemos sentir. Dessa forma, assumo que também gostaria de compartilhar um pouco da minha, para que, minhas experiências fiquem de alguma forma registrada quando eu não mais puder contá-las.

 Primeiramente gostaria de esclarecer o motivo pelo qual escolhi a palavra "attraversiamo" para nomear o blog e, é claro, veio do livro que muito me inspirou (e tem inspirado) "Comer Rezar Amar" de Elizabeth Gilber, a Liz (vou citá-la bastante e sempre vou chamá-la dessa forma. Porém, não é pelo simples fato de ela gostar da palavra, ou por esta palavra aparecer diversas vezes no livro e, sim, pela identificação imediata que tive quando li "Vamos atravessar?", pois, sinceramente, é isso que estou fazendo na minha vida, atravessando, não sei para onde, não sei o motivo, não sei onde vai dar, mas eu estou atravessando, e, como já dito, talvez assim eu me encontre do outro lado.

 Hoje estou com 23 anos, sou advogada (daquelas que tem número de OAB e tudo), brinco com isso porque todas as vezes que digo que sou advogada as pessoas me olham com aquelas caras incrédulas e me perguntam "Mas você já tem OAB?", estou fazendo pós-graduação em Direito e Processo do Trabalho, que é a minha paixão no Direito e, daqui alguns meses que não sei ao certo quantos, no mínimo dois, vou dar uma giro de 180 graus na minha vida.

 Há um mês resolvi largar tudo por aqui e me tornar uma au pair, é, sair da minha zona de conforto que, para mim não era tão confortável assim, porém para quem olhasse de fora podia até parecer, mas como já mencionei, só nós mesmos para sabermos o que sentimos. Podia definir essa decisão como "BUSCAR mas, para ser honesta, poderia com a mesma facilidade defini-la como ESCONDER-SE" (transcrição de frase da Liz).

 Há um mês eu era uma advogada que estava montando um escritório com a mãe que também é advogada e tem mais de 20 anos de carreira, que atua na área que gosto, que tinha um namorado com quem já estava junto há dois anos e oito meses e com quem eu poderia facilmente passar o resto da minha vida e conseguia nos imaginar velhinhos ainda nos dando muito bem, tinha a intenção de terminar a minha pós-graduação e parecia que estava com a vida toda encaminhada. Olhando para o mundo, como está hoje, imagino que existam milhões de pessoas que gostariam de estar no meu lugar naquele momento, mas eu não queria.

 Bom, eu ainda sou uma advogada e jamais vou deixar de ser (aqui no Brasil), minha mãe ainda está montando um escritório para nós (quando eu voltar eu vou trabalhar lá), eu não tenho mais o meu namorado, e agora estou esperando para colocar o meu perfil no ar para que, uma família americana me escolha para ser a babá do filho deles, ou quem sabe, dos filhos deles, pois podem ser até quatro.

 Só para esclarecer, o fato de eu ter terminado o namoro não tem nada a ver com a minha decisão de me tornar uma au pair, ou, tem tudo a ver. Para ser bem sincera, foi o empurrãozinho que me faltava mas, me lembro que desde nova, acho que com 11 ou 12 anos eu já me imaginava passando um tempo longe de todos e voltando totalmente diferente, principalmente quando de alguma forma eu era rejeitada, acho que era uma forma de eu me sentir melhor, de imaginar que, se eu mudasse não sofreria mais rejeições. O tempo foi passando e até agora ainda não fiz isso, mas estou prestes a fazer.

 Lembro-me que o primeiro contato que fiz com a agência que fechei o meu programa de au pair foi no meu primeiro ano de faculdade, ou seja, em 2006, porém como já tinha começado e não queria parar, continuei para ver no que dava. Por diversas vezes durante o curso eu pensei em fazer esse intercâmbio, mas nunca tive coragem de largá-lo pela metade, então, quando estava na metade do terceiro ano conheci o meu ex, o que fez a viagem por um ano para o exterior ficar fora de cogitação, eu havia, naquele momento, encontrado alguém especial.

 Quando terminei a faculdade, passei no exame de ordem e, não estava precisando trabalhar, essa idéia voltou a perturbar a minha cabecinha, que, de uma forma ou de outra, a rejeitava, eu definitivamente não queria largar o meu namorado e nem deixar em casa as minhas três gatinhas as quais não poderiam entender a minha ausência por tanto tempo. Então eu rejeitava a ideia e ela voltava, e eu rejeitava denovo e ela voltava denovo. Arrumei milhões de desculpas, até inventei essa pós para ficar presa aqui por mais algum tempo, também ficava com a idéia de deixar minhas gatas, até que, um dia sonhei que alguém me dizia "vai que elas ficarão bem sem você", e foi nesse momento que parece que tudo começou...